Eduardo Catroga: 2023 será um ano "de abrandamento do ritmo de crescimento"
Quinta, 15 Dezembro 2022
Voltar à listagemDepois de 2022 ter sido marcado por um crescimento que se traduziu, na generalidade dos casos, numa recuperação económica a níveis de 2019, o ano de 2023 vai ser “de abrandamento do ritmo de crescimento da atividade económica”. Esta é a convicção de Eduardo Catroga, economista, gestor e antigo Ministro das Finanças, que foi orador convidado da conferência ‘Macroeconomia e Mercados: O que esperar em 2023?”, organizada pela CEFAMOL, e que teve lugar no dia 14 de dezembro, contando, na plateia, com dezenas de empresários e profissionais do sector.
Para o antigo ministro, “há, segundo todas as expectativas, um elevado grau de incerteza em relação a 2023”. No entanto, salienta, será possível crescer. “É esperado um crescimento económico na zona Euro que pode variar entre 0,5 e 1 %. E Portugal deverá ter, também, um crescimento”, afirmou. De entre os países europeus, aquele que mais dúvidas levanta em relação ao seu desempenho económico é a Alemanha, referiu ainda, lembrando a grande dependência de gás russo que o país tem.
Recordando a sequência de acontecimentos que culminaram na situação atual da economia, Eduardo Catroga destacou a pandemia de Covid-19 e, sobretudo, a guerra da Ucrânia. “Esta guerra tem implicações não apenas no mercado energético, mas também no da alimentação que está a ser muito afetado”, frisou. Com isto, e no seu entender, os mercados europeus “vão ter um arrefecimento em 2023, mas poderão entrar em recuperação a partir de 2024”.
O principal dado novo em relação a anteriores recessões económicas é a inflação. E esta, salienta, “veio para ficar”. Centrando-se no caso português, considerou que “o grande desafio que se coloca, neste momento, é como gerir um processo de desinflação”. Defendendo acreditar que “havendo articulação com os Estados, os bancos não vão deixar a inflação subir desmesuradamente”, citou os Estados Unidos como exemplo, referindo que, aí, a inflação já começou a dar sinais de redução. “Não é só nos Estados Unidos, na zona Euro também já se nota uma queda da inflação, mas é, ainda, cedo para dizer se é essa a tendência”.
De acordo com as projeções, sublinhou, a taxa de inflação deverá ser, em 2024, na ordem dos 2,4 a 3 %”. Contudo, recordou que essa taxa já atingiu, este ano, “os 10 %”. E é nesse aspeto que o ex-ministro é mais critico em relação às políticas seguidas pelos sucessivos governos. A prioridade, no seu entendimento, devia ser o apoio ao sector empresarial.
Numa sessão muito esclarecedora e dinâmica, com a intervenção de elementos da plateia, quer com opiniões, quer com questões, Eduardo Catroga falou, também, de uma outra questão que será “mais um desafio: a transição energética”.
A rapidez com que, sustenta, se está a tentar fazer esta passagem levanta algumas questões, desde logo a “certeza de que tem elevados custos associados”. Lembrando que a população mundial continua a aumentar, assinalou que a energia é necessária à vida humana e, por isso, o recurso aos combustíveis fósseis terá de se manter por mais algum tempo. Até porque o recurso a energias renováveis caminha de forma diferente nos vários países. “A redução das emissões de CO2 é um projeto não apenas para esta, mas também para a próxima geração”, frisou, considerando este processo de transição “tem de ter metas realistas”.
Para Eduardo Catroga, o grande desígnio da economia nacional deve ser “alcançar a média dos países ricos”. Esta visão, diz, tem sido entendida por outros países, sobretudo os de Leste, e essas economias, apesar de mais pequenas que a portuguesa, “estão a fazer por subir mais rapidamente”. Por isso, defende, “é imperioso por o nosso país a crescer”.
E a fonte do crescimento económico é, na sua opinião, a produtividade e competitividade empresariais. “O motor da economia não é o Estado. Têm de ser as empresas e as famílias”, defendeu, considerando que deve ser seguida uma política económica “mais equilibrada e coerente”.
As empresas, enfatizou, “têm de fazer o seu papel que é aumentar o valor acrescentado”. Para isso, terão de apostar em estratégias de otimização de custos e para a inovação. Ou seja, “trabalhar mais e melhor”. E neste percurso, considerou que terão de ter também um papel mais reivindicativo junto dos governantes, de forma a fazerem ouvir a sua voz.
Manifestando-se “sempre otimista”, considerou ainda que os novos desafios que as empresas têm pela frente “vão ser geradores de novas oportunidades” que as poderão posicionar de forma diferenciadora no mercado internacional.